domingo, 9 de junho de 2013

Brasileiros ganham fama ruim praticando assaltos e arrastões em jogos on-line
por ALEXANDRE ORRICO, Folha de São Paulo, 20 de maio de 2013

“Aqui é Brasil, seu safado!”, gritou o jogador identificado pelo apelido L3L3K antes de assassinar um norte-americano no “DayZ”, game de tiro em primeira pessoa. “Tinha que ser brasileiro”, reclamou a vítima.

No jogo, ambientado em um mundo pós-apocalíptico apinhado de zumbis, os participantes têm que cooperar para sobreviver.


Mas L3L3K faz parte de um grupo de jogadores que prefere roubar equipamentos e enganar outros gamers com o objetivo de “tocar o terror”.
Há anos, o comportamento “tóxico” (termo usado pela indústria de jogos) é apontado por jogadores de games de multijogadores como tipicamente brasileiro.
“DayZ” é apenas o alvo mais recente, mas outros títulos, como “Call of Duty”“World of Warcraft”“DotA” e “Minecraft”, entre vários outros, também têm legiões de arruaceiros brasucas.
No fórum do game “League of Legends”, é possível ler frases como “brasileiros são o submundo dos games on-line, a personificação do que é ser troll, o mais infame e odiado tipo de jogador” e“graças a Deus, abriram servidores brasileiros, assim eles entram menos por aqui [nos servidores internacionais]“.

O problema, é claro, não é exclusivo do Brasil. Mas nenhum outro país tem uma identidade negativa tão forte. Alguns brasileiros, na tentativa de fugir do estereótipo, mudam a nacionalidade de seus perfis no jogo, a fim de não serem rechaçados.
“Podemos afirmar que esse não é um problema que tem origem no game. O jogador é, no mundo on-line, reflexo de como vive no mundo real”, diz Julio Vieitez, diretor-geral da Level Up! (de games como “Grand Chase” e “Ragnarok”) no Brasil.
GANGUE DOS ‘HUE’
“Jogadores brasileiros em games on-line são uma gangue, e não um grupo“, disse Isac Cobb, desenvolvedor independente, durante a feira de jogos PAX East 2013, em Boston, nos EUA.
Cobb chegou a cogitar o bloqueio dos brasileiros em um novo jogo, mas disse que ainda não há nada decidido.

Entre as reclamações, estão a realização de assaltos, mendicância, ataques a membros do próprio time e outras atrocidades virtuais.
“Curtimos tocar o terror”, admite Caio Simon, 19, jogador de “DayZ“. “É só um jogo, estamos nos divertindo. Não é para levar tão a sério.”
Esse tipo de jogador é, às vezes, chamado de “hue”, por causa da típica representação de risada, normalmente disparada após cometer alguma barbaridade: “HUEHUEHUE”.
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O site Literatortura também deu sua opinião sobre o tema, colocando como centro o artigo da Folha de São Paulo, confira:

Sobre “Brasileiros ganham fama ruim praticando assaltos e arrastões em jogos on-line” e outras considerações

Entenda o HUE – O porquê de brasileiros serem mal-vistos em jogos online

Por Caio Oleskovicz23 de maio de 2013

O mundo dos jogos virtuais é feito de preconceitos e estereótipos. Qualquer pessoa que já jogou alguma coisa online de grande porte sabe disso. Vistos como “tóxicos” por boa parte das pessoas ao redor do planeta que estão dentro deste(s) universo(s), o público brasileiro é constantemente insultado e ridicularizado em fóruns, comunidades e afins. E isso foi tema de uma recente matéria da Folha de São Paulo, que gerou bastante discussão. Mas por quê? Afinal, o que fizemos? Será que somos assim tão chatos e nem sequer percebemos?

Calma: Se você está em dúvida entre jogar alguma coisa online cuja comunidade é internacional, devo avisá-lo que não é uma homogenia entre os povos fora da nossa nação. Existem pessoas, que, em geral, são extremamente bem educadas, que se interessam e se mostram felizes por conhecer um brasileiro. De fato, se você falar inglês num nível pelo menos razoável e for também educado, em geral não irão te tirar do sério. Se não falar inglês, a recomendação é que não tente se comunicar – sério, eles não vão te entender e isso vai ser bastante chato numa interação. É importante compreender também que praticamente todos os povos são estereotipados, mesmo (e principalmente) americanos ou canadenses. Não é uma perseguição ao Brasil especificamente. Os costumes abaixo citados são espalhados na internet por sites como o 4chan e o reddit, que são grandes centrais e comportam milhões de pessoas; daí este conteúdo se torna famoso. As famosas rage comics criaram sua popularidade lá, por sinal.

A parte séria desse preconceito é quando o brasileiro em questão é discriminado e muitas vezes “kickado” (convidado a se retirar, porém sem convite, se é que me entende) ou isolado de jogos simplesmente por seu endereço de IP apresentar a bandeirinha do nosso país; ou então, as ofensas são raciais, constituindo a partir disso um crime. Mero estereótipo pode até mesmo ser engraçado e ajudar na conversa, mas quando se torna xingamento puro, evidentemente não é saudável. O ataque direto à nação é uma prática que está se dissolvendo, mas ainda acontece: Eu estava jogando xadrez num grande site internacional do assunto, um sujeito viu minha bandeirinha brasileira e disse “não vou jogar com você, você não tem QI suficiente para me vencer, é perda de tempo”. Uma atitude lamentável e antidesportiva. Se o indivíduo tivesse dito“huehuehue brbr?”, eu teria dado risada e jogado, normal, com o cara. Diante de tal atitude primeiramente exposta, porém, o melhor é tirar uma captura de tela e enviar à empresa responsável, e então bloquear o agressor. Os preconceitos mais leves estão descritos a seguir:

O problema maior dos brasileiros na visão dos gringos é nossa tendência constante a falar a nossa língua para pessoas que não irão entendê-la. Isso é bastante inconveniente e irritante para o interlocutor; não obstante, ele se sente impotente defronte ao que você está falando, ou seja, você pode estar literalmente xingando a mãe do cara e ele não vai saber. Isso chateia praticamente qualquer um; e em jogos online, as pessoas são muito mais suscetíveis à explosões de raiva e coisas do tipo. Quero matar uma discussão que eu
tenho certeza que será fomentada: Nós não temos direito de “nos incomodar” com o uso da língua inglesa, partindo do princípio que não entendemos inglês também? Sim, nós temos; aliás, teríamos. O problema é que nós falamos o português (o que, reforço, é pura poluição de chat para os estrangeiros) em servidores ingleses, chineses, alemães; é como se um dinamarquês resolvesse discutir política, a partir do Senado, com todos os brasileiros residentes no Brasil… Ao mesmo tempo!, e tal dinamarquês ficasse simplesmente furioso por não o compreendermos; então, ele busca outros dinamarqueses, junto dos quais falaria coisas ininteligíveis – dentro do Senado brasileiro, atrapalhando (!) uma reunião! O pouco que ele fala de português seria arranhado numa forma torpe e não legítima. Vocês realmente acham que tal atitude não viraria motivo de chacota ou raiva? Naturalmente que viraria. O ápice do “ódio” dos estrangeiros à linguagem “poluente” que brasileiros usam em servidores não nacionais é o neologismo “hue”. “Huehuehue” é como damos gargalhadas, na visão das pessoas de fora, na internet. Essas gargalhadas, geralmente exageradas, viraram o símbolo do nacionalismo brasileiro via fibra ótica: Quando usa-se o “huehuehue”, sabe-se que está falando de brasileiros ou com brasileiros, ou muito além dessa fronteira, alguém que simplesmente tenha o comportamento – um tanto dúbio – de um brasileiro.

Não tenho ensejo de comparar uma discussão de política com um jogo online, mas existem pessoas – mesmo aqui no Brasil – que levam os jogos à sério; existe uma modalidade de competição bastante proeminente ao redor do mundo, chamado e-sporting, que começou a ganhar principal destaque aqui no Brasil com a explosão de League of Legends. Quando formou-se grande comunidade de brasileiros no servidor exterior do jogo, criaram um servidor com equipe dedicada aqui no Brasil. Alguns viram isso como preconceito, outros como melhora do serviço. Acredito que há boa intenção em deixar-nos com a nossa comunidade, mantendo aberta ainda a internacional por aqueles que se interessarem em conversar com pessoas de outros países. É a medida adotada não só com o Brasil, mas com muitos outros, China, por exemplo, deste modo não acredito se tratar de mera “exclusão” dos brazucas, além de ser um meio a mais de popularizar o “esporte online” por aqui.

Outro hábito mal-visto na internet que é praticado majoritariamente pelo nosso povo da Terra Papagalis são os chamados “arrastões” em jogos virtuais, comuns em MMORPGs. Pode parecer meio ridículo, mas é um hábito fascinantemente presente: As pessoas por vezes agem como “mendigos” (citando outra vértice das frases que remetem ao Brasil: “Gibe moni plx”, uma versão abrazucada do “gimme money pls” – “me dê dinheiro, por favor”). Usando essa e outras frases, eles grudam em outros jogadores de nível mais alto e ficam (geralmente até serem bloqueados) pedindo dinheiro. Essas pessoas são frequentemente brasileiros (porém, é claro, não é exclusivo nosso; muita gente tem este hábito, que é, também, inconveniente). Essa mania é frequentemente somada à ameaças de denúncias (“I report u”, ou “eu denuncio você”), ou seja, ou você me dá dinheiro, ou irei bombardear a administração do jogo com denúncias. Um ato um tanto baixo e um tanto covarde, também comumente associado ao Brasil.


É mais ou menos esse o comportamento visto pelos gringos

O estereótipo feito a partir do nosso povo é, sim, um tanto maldoso, mas também um tanto 
verdadeiro. Em geral, todos os países passam por esse processo – todos eles têm uma coisinha ou outra que é motivo de piada. Então o conselho é: Tentar jogos com comunidades nacionais, se esse preconceito te incomodar muito, ou tentar aprender o inglês, para se comunicar com pessoas do exterior sem precisar ser uma attention whore. E, no mais, se divirta. É essa a premissa dos jogos para os jogadores casuais (que é, basicamente, que me desculpem os jogadores de World of Warcraft, todo mundo que não ganha dinheiro jogando). Ah, sim: Outra coisa que você pode fazer e está sendo cada vez mais adotado é simplesmente entrar na dança. Não é nenhuma perda de patriotismo brincar com esse tipo de coisa, não é uma ofensa à bandeira. Se há quem leva a sério esse ódio à nação, boa parte considera tudo como pura brincadeira, como bullying de inclusão – algo como “se não sabe brincar, não desce para o play”. Como todo bullying, muitas vezes ficar irritado só piora tudo. É claro que não estou defendendo a estereotipação dos países, mas, em geral, se você demonstrar sua raiva, só vai estar confirmando esse estereótipo – muito me impressiona algumas pessoas, que moram no Brasil, se referindo a nós, brasileiros, como “cânceres”, como se fôssemos o único problema, mas não tem porquê levar um “hue” direto à alma e se sentir gravemente ofendido. Leve menos a sério, relaxe e dê risada também.

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