segunda-feira, 24 de junho de 2013

On 04:25 by papa in , ,    No comments
Contudo, a diversidade também não é tanta. Acostumados como estamos a assumir papéis ou julgamentos preexistentes, terminam por se gerar certos modelos sumamente identificáveis de comentaristas, personalidades virtuais que se iteram uma e outra vez em todos esses cantos da Rede onde é possível sair das sombras do anonimato.

Da mesma forma, o site Cracked elaborou uma lista de 8 destes grandes estereótipos do internauta que não silencia sua opinião a respeito de algo com qual tropeça na Internet. O site MDig traduziu e acrescentou mais alguns itens. Confira e perceba como tais perfis definem boa parte daqueles comentaristas que você vê por aí – e por aqui:

O Incrédulo

Sua missão na vida (talvez também fora da Internet) é iluminar com seu ceticismo as trevas onde os ignorantes cambaleiam e chocam entre si por carecer da luz do conhecimento verdadeiro. Este Sócrates do século XXI diz coisas tão verdadeiras, tão evidentes, tão óbvias, que sente que seria ofensivo para a sua inteligência e do resto argumentar suas opiniões.

Palavras e expressões preferidas: Fake e “não tem credibilidade”

Cavaleiro Andante do Scroll

Como os lendários defensores dos fracos e oprimidos, a voz deste comentador será sempre ouvida onde um grupo de identidades virtuais se reúna para zombar abertamente de alguém: um garoto gordo que foi gravado durante um tombo, um ser que os hipócritas se atrevem a insultar em suas faltas. Mas, para felicidade do vilipendiado, cedo ou tarde o Cavaleiro irromperá em sua defesa unicamente com sentenças moralistas fazendo com que os abusivos se calem e se retirem derrotados para meditar em solidão sobre suas farisaicas considerações.

Palavras e expressões preferidas: Depois que aprendeu a palavra “hipocrisia”, “preconceito” e “generalização” em seu curso avançado de vocábulario para “inclusão digital” nunca mais parou de usá-las.

Cientista PhD

Santo Darwin! Como se atrevem a colocar o sagrado nome da ciência e suas descobertas em seus imundos lábios! Como é possível que não saibam que a glicose é um monossacarídeo cuja fórmula molecular é C6H12O6!
Em desencargo destes fanáticos da ciência – que nem sempre entendem que a divulgação científica e a especialização são incompatíveis em certos momentos – diremos que, quando se permitem um minuto de distração da tese que seguramente redigiam nesse momento
 e condescendem a explicar a raiz do erro da nota em questão. Então, só então, é possível que possamos precisar e aprender com eles algo novo, nunca desdenhável por sinal. Obrigado por isso.

Palavras e expressões preferidas: “Pesquisa científica” e citar nomes de cientistas que ficaram famosos por causa da exposição da mídia, como Stephen Hawking e Carl Sagan.

O megalômano criado na imaginação de Hitler

Talvez este comentarista seja o único do qual é difícil rir. Ele é tão orgulhoso de seus preconceitos (ou será que duvida deles?) que se crê no dever de propagá-los em uma evangelização construída a base de insultos e ofensas profundas, com as quais crê abrir a mente dos que o lêem. Por infelicidade, seus comentários podem chegar a encontrar eco e ser aceitos por um congênere que professe as mesmas ideias. Se um post fala de uma comunidade menor, de homossexualidade, de etnias indígenas, de minorias vulneráveis, ali estará ele, ansioso por demonstrar a impotente estreiteza conceptiva com a qual quer dominar o mundo.

Palavras e expressões favoritas: Qualquer uma que gere preconceito e ajude ele a alimentar seu mundinho mediocre.

O comentarista ninja

Elusivo. Discreto. Letal. Usa sempre uma adaga imprevista que afunda na carne do segurança. Como um dardo que cai no meio do caos bélico e acaba de vez com a batalha cujo desenlace parecia incerto. A força de sua opinião é geralmente sustentada pela brevidade de suas palavras.

O ativista de escritório

A loteria da moral complementa-se com o ativista político que desde sua cama ou sua cadeira de rodinhas tenta mudar o mundo comentando na Internet, escandalizado pela banalidade que o rodeia, pelo entretenimento e a diversão, pela capacidade da massa por atender assuntos fúteis quando há coisas bem mais importantes às quais se dedicar de corpo e alma. Sua entrada preferida é o lamuriante “Como é que pode?”, após o qual começa o discurso soporífero de ordem política repetido a exaustão em respeito a injustiças cotidianas pelas quais ninguém faz nada a não ser se indignar.

O Bom Pastor

As crenças religiosas são respeitáveis, mas nem por isso resulta menos chato que o crente entusiasta ou o ateísta fundamentalista. Faz todo o possível para ganhar adeptos para sua congregação sem importar-se que sua doutrina venha ou não ao caso, importe ou não a seu interlocutor. Um mala! E ainda arruina a maioria das discussões que entra levando o tema para religião, mesmo que o tópico/post falasse sobre “como caminhar em uma montanha de queijo e continuar tolerante a lactose!”

Os conspiranoicos

Se é algo bem difícil entrar no labirinto das conspirações, bem mais difícil é sair dele. Uma vez que a semente da conspiração começa a brotar em uma mente, suas raízes se apoderarão do entendimento e a partir dai tudo será susceptível de pertencer a um plano secreto de dominação mundial, engrenagens infinitas e sutis que trituram as boas causas, os bons projetos, as boas intenções, submetendo-os a interesses obscuros que fazem todo o possível para desmerecer às poucas pessoas que se atrevem a ver as coisas como realmente são.

Os extraordinários

Aristocratas do bom gosto, sibaritas da informação, leitores de mindinho levantado. Sua inteligência privilegiada fica ofendida se falam seriamente sobre alguma trivialidade que se trate trivialmente de um tema sério. Seu gosto primorosamente refinado pensa que é repugnante aturar os sabores grosseiros do atrevimento e das possibilidades. Suas considerações provocam tantos bocejos quanto insultos, que expressam com esperança, as vezes de forma grosseira, que algum dia este tipo sinta o gosto mundano de sua existência de tamanha mediocridade.

Doentes de literalidade

Lamentamos sentidamente que agora existam tantas pessoas tomadas pelo mal da literalidade – da falta dela, quero dizer -, impedidas de entender a metáfora arriscada (e às vezes malograda), o sentido figurado, o sentido implicíto, o humor irônico e sarcástico, a liberação e a graça que há no fracasso. Lamentamos que existam tantas pessoas incapazes de rir, de se permitir caçoar de si mesmos, de entender que talvez a própria existência seja uma grande piada que culminará em algum dia com uma gargalhada não menos estentórea de todo o universo e à qual sem dúvida terminaremos nos unindo gostosamente.

E você, leitor, se identificou com algum ou conhece alguém que é algum desses?


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