quinta-feira, 24 de outubro de 2013

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E se Gandalf sucumbisse ao poder do Um anel?
O Senhor dos Anéis é de certo modo uma história completa, pois possui um começo, um meio e um fim.  Mas o que intriga a maioria dos fãs e o que também fascina é o conjunto de histórias que estão em torno (ou anteriores) aos eventos da Terceira Era e a aventura de Frodo Bolseiro. Além disso, os vários questionamentos que surgem com a leitura atenta dos livros torna esse Universo mitológico cada vez mais complexo quando se busca uma resposta.
O questionamento sobre “probabilidades” ou “hipóteses” é interessante, na medida em que instiga o raciocínio, a capacidade de argumentação e, sobretudo a pesquisa atenta e organizada.
Evidentemente que em nosso mundo real fazer esse tipo de cogitações não seria algo tão bem visto, especialmente por historiadores, por exemplo, por um grupo de estudantes que decidissem escrever algo sobre o que teria acontecido se Hitler tivesse ganhado a Segunda Guerra Mundial. Jamais saberemos o que poderia ter acontecido, pelo simples fato de o de que isso não aconteceu e também porque a realidade é cheia de imprevisões e nada é tão objetivo em que pudéssemos cogitar de acontecimentos com exatidão.
Da mesma forma acontecesse com O Senhor dos Anéis. O professor J.R.R.Tolkien criou a ideia de mundo secundário, que tenta se aproximar da realidade que conhecemos, mas com leis internas de um mundo de fantasia e toda sua coerência própria. Dessa forma, a realidade seria a base primária para a formação desse mundo.
Partindo dessa ideia, de que o mundo de Tolkien se baseia em aspectos de nossa realidade, vemos que o “Livro Vermelho” (de autoria inicial de Bilbo Bolseiro com complementos de Frodo Bolseiro e outros autores posteriores) seria equivalente a um livro de história. Então cogitar se algo poderia acontecer na história, seria o equivalente de dizermos ou questionarmos o que aconteceria se Hitler ganhasse a Guerra. Teremos várias hipóteses, mas nenhuma resposta absolutamente correta.
Contudo, o próprio Tolkien apresentou algumas de suas visões sobre o que poderia ter acontecido se Gandalf pegasse o Um anel e lutasse com o Sauron, e o vencesse. Segundo a concepção do professor o único capaz de vencer o Sauron na Terra-Média seria o Gandalf (veremos a seguir maiores detalhes). É importante ter sempre em mente que se tratam de pensamentos do professor em uma de suas várias divagações por carta e que não formam propriamente uma parte do seu mundo, porém não pode ser deixada de lado com objeto de estudo.
Para se responder a pergunta: O que Gandalf se tornaria se possuísse o Um anel¿ Deve-se responder a outros pontos: Qual a extensão do poder do mago cinzento¿ Gandalf podia sucumbir ao poder do Um anel¿ Ele conseguiria derrotar Sauron¿

Gandalf em relação a outros Maiar


Um dos personagens mais queridos das obras de Tolkien, Gandalf é considerado ‘O’ herói das histórias que se passaram na Terra-Média, em especial no final da Terceira Era.  Ele é um Maia, uma raça de seres criados pelo Deus único da mitologia de Tolkien cuja principal destino é auxiliar os Valar (uma espécie de anjos maiores) em seus trabalhos na criação.
Assim, Gandalf, conhecido com o nome de Olórin em Valinor, sempre acompanhou e lutou contra as forças do maligno Melkor (Morgoth), e esteve ciente da capacidade do mal na  Terra-Média.
Conforme escrito no Silmarillion: “O mais sábio dos Maiar era Ólorin” (Martins Fontes,2009, p.22), em outras palavras, Gandalf era mais sábio do que qualquer dos Istaris (Saruman e os outros magos) e até mesmo Sauron e outros seres malignos.
Talvez por ter sido destacada como o mais sábio entre os de sua raça, que os Valar insistiram para que ele fosse para a Terra-Média, com a finalidade de auxiliar os povos livres contra a ameaça do novo senhor do escuro Sauron.
Se tomarmos sabedoria como sinônimo de poder, pode-se dizer que Gandalf seria o mais poderoso da Terra-Média, na época das histórias de Bilbo e Frodo Bolseiro. Mas em se tratando de força física, os poderes de Gandalf estavam reduzidos e sofria limitações em seu corpo por decisão dos Valar.
A única oportunidade em que se pode verificar um pouco da extensão do poder de Gandalf (em termos físicos) é na sua luta contra o Balrog de Moria.Essa é a demonstração de que mesmo com um poder limitado e um corpo mais fraco ele conseguiu derrotar o Balrog (mas também sucumbiu). Nessa batalha vemos que Gandalf conseguiu ser mais poderoso do que outro Maiar com o poder liberado, ou seja, o mago cinzento tinha um poder grandioso ainda oculto.
Ao retornar como Gandalf, o branco seus poderes parecem ter sido aumentados. Seu corpo não sofria tantas limitações de poder como anteriormente. Essa medida foi uma necessidade dos poderes superiores em depositar nesse mago sua confiança e última esperança, uma vez que os outros magos haviam falhado na tarefa de tentar conter o poder de Sauron. Nesse momento é que Gandalf enfrenta e “derrota” outro Maia, o chefe de sua ordem, Saruman, que havia se tornado maligno e aliado ao Sauron.
Não se pode ignorar o fato de que Gandalf era, portanto, um ser muito poderoso e realizador de grandes feitos. Mas seria capaz de derrotar Sauron?
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Gandalf e a tentação do Um anel

Como dito acima, o Gandalf chegou na Terra-Média com seus poderes limitados, de tal forma que poderia sofrer e estar suscetível a emoções variadas. Tolkien resume basicamente em uma de suas cartas, que possuindo um corpo os magos estariam agora suscetíveis de cometer ‘pecados’, pois poderiam ter impaciência que querer usar seu poder para obrigar e forçar outros a derrotar o inimigo:
“… sofriam as dores tanto de mente como de corpo. Também estavam envolvidos dessa maneira, pela mesma razão, no perigo dos encarnados: a possibilidade de “queda”, de pecado, se preferir. A principal forma assumida por esse perigo era a impaciência, que levava ao desejo de forçar outros aos seus próprios fins benignos e assim, inevitavelmente, por fim ao mero desejo de tornar suas próprias vontades efetivas de qualquer modo. A esse mal Saruman sucumbiu. Gandalf não. Contudo, a situação tornou-se tão pior com a queda de Saruman que os “bons” foram obrigados a esforços e sacrifícios maiores. (carta 181)









Esse é um grande dilema do ser humano que possui o poder para fazer algo. Se você pudesse usar o seu poder para obrigar outras pessoas para o seu fim seria algo justo¿ mesmo que esse fim fosse algo aparentemente bom seria justo usar as pessoas de modo coercivo para atingir esse objetivo¿ É moral ou correto usar de seu poder de influência para atingir seus propósitos. Isso meio que remete a um pensamento e interpretação do conhecido Maquiavel, sumulado em “Os fins justificam os meios” ou poderia ser mais apropriadamente enquadrado em uma ideia do imperativo categórico de Emanuel Kant. Mas, enfim, não iremos tratar de filosofia nesse artigo.
Partindo da ideia de que um ser humano não pode usar outro ser humano como objeto, pois este possui dignidade própria, seria algo perverso utilizar o Um anel, ainda que com propósitos inicialmente bons. O poder do anel poderia corromper o seu portador, tornando-o maligno como Sauron. Assim, Gandalf se tornaria ainda mais poderoso, como ele mesmo afirmar em um diálogo com Frodo:
— Mas tenho tão pouco dessas coisas! Você é sábio e poderoso. Você não ficaria com o Anel?
— Não! — gritou Gandalf, levantando-se de repente. — Com esse poder eu teria um poder grande e terrível demais. E comigo o Anel ganharia uma força ainda maior e mais fatal. — Seus olhos brilharam e seu rosto se acendeu como se estivesse iluminado por dentro. — Não me tente! Pois eu não quero ficar como o próprio Senhor do Escuro. Mas o caminho do Anel até meu coração é através da piedade, piedade pela fraqueza e pelo desejo de ter forças para fazer o bem. Não me tente! Não ouso tomá-lo, nem mesmo para mantê-lo a salvo, sem uso. O desejo de controlá-lo seria grande demais para minhas forças. E vou precisar delas. Grandes perigos me esperam. (O Senhor dos Anéis, a sociedade do anel, Cap.II:A Sombra do Passado).
Gandalf reconhecia que poderia falhar. Reconhecer que ele era fraco e que poderia sucumbir ao poder do Um anel foi uma das suas várias demonstrações de humildade. Talvez essa fosse uma das grandes virtudes do Gandalf e ao mesmo tempo o que lhe possibilitou vencer barreiras. Saruman era orgulhoso de seu poder e como chefe da ordem dos magos acreditava que poderia criar o seu próprio anel e que poderia utilizar do mesmo método de Sauron para derrotá-lo. Na verdade Saruman pretendia estabelecer por meio de seu poder uma nova ordem em que junto com Gandalf poderia derrotar Sauron e dominar a Terra-Média, estabelecendo uma certa paz dominada.
Enquanto Saruman pensava no poder e como ele deveria ser usado para derrotar o mal, Gandalf percebia que compreender as falhas de seus inimigos especialmente de seus aliados era a fonte para vitória.Ele acreditava que o poder poderia vir de atos de pessoas que por muitos eram consideradas fracas e insignificantes.
Mesmo tendo uma ideia diferente de Saruman, Gandalf ainda poderia se sentir tentado em usar o poder do Um anel, e por isso o recusou, mesmo que oferecido por seu portador.
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Gandalf contra Sauron
Partindo da ideia de que Gandalf possui grandes poderes e que foi capaz de derrotar seres poderosos como o Balrog e Saruman, resta saber se ele poderia derrotar Sauron.
Sauron e Gandalf são personagens antagônicos. Tanto que eles são considerados inimigos um do outro. A grande guerra entre o bem e o mal, era a guerra de Gandalf contra Sauron. Tolkien chega a afirmar o seguinte “O oponente de Gandalf, estritamente falando, era Sauron, em uma parte das operações de Sauron, assim como Aragorn o foi em outra”. (carta 144). E o próprio Gandalf disse no livro que “Eu era o inimigo de Sauron”. Então, imaginar como seria uma luta entre Gandalf e Sauron seria um grande evento.
Uma afirmação de Tolkien é interessante. Comentando quem poderia derrotar Sauron, se Elrond, Galadriel ou Gandalf. Ele afima que “Dos outros, podia-se esperar que apenas Gandalf o sobrepujasse — sendo um emissário dos Poderes e uma criatura da mesma ordem, um espírito imortal que assumira uma forma física visível”. (carta 246)
Percebe-se claramente que o entendimento do professor Tolkien é que Gandalf teria uma certa igualdade de poderes com o Sauron, por serem da mesma raça. Mesmo Galadriel e Elrond serem considerados elfos muito sábios e poderosos, eles não poderiam derrotar Sauron individualmente.
 Mais adiante, na mesma carta, Tolkien escreveu que sobre o que poderia acontecer se Gandalf estivesse lutando, sem auxilio, contra o Sauron:
O confronto apenas com Sauron, sem auxílio, individual, não era contemplado. Pode-se imaginar a cena na qual Gandalf, digamos, fosse colocado em tal posição. Seria um equilíbrio delicado. De um lado a verdadeira fidelidade do Anel a Sauron; do outro, força superior, pois Sauron na verdade não estava de posse dele, e talvez também porque ele fora enfraquecido pela longa corrupção e gasto de vontade na dominação de inferiores. (carta 246)








Seria um momento épico a luta entre Sauron e Gandalf, seria a típica representação do bem contra o mal em sua última batalha (Luke Skywalker contra Darth Vader). Até porque ambos representavam dois lados propriamente: o bem e o mal. Mas como pode-se verificar no trecho acima, Gandalf detinha a “força superior”, pois Sauron não estava com seu poder completo e não poderia lutar igualmente com Gandalf. Portanto, Gandalf poderia derrotar Sauron com mais facilidade se este não estivesse em posse do um anel.

Gandalf, o escuro


Então afinal, o que aconteceria com Gandalf se ele pegasse o Um anel e derrotasse Sauron?
Gandalf utilizando o poder do anel poderia derrotar Sauron, destruí-lo por completo. Mas o anel ainda permaneceria ativo e o mal perduraria enraizado nele e assim o mago cinzento poderia ser corrompido aos poucos. Como destacado anteriormente Gandalf previa que utilizando o Um anel poderia surgir um poder ainda mais destruidor e incontrolável:“Com esse poder eu teria um poder grande e terrível demais. E comigo o Anel ganharia uma força ainda maior e mais fatal”.
E Tolkien ainda destaca que esse poder poderia aparentar-se como algo bom, mas que se tornaria maligno, ou seja, seria na verdade uma distorção do que poderia ser algo bom inicialmente:
“Se Gandalf se mostrasse vitorioso, o resultado teria sido para Sauron o mesmo que a destruição do Anel; para ele teria sido destruído, tirado de si para sempre. Mas o Anel e todas as suas obras teriam perdurado. Este teria sido o mestre no final. Gandalf como Senhor do Anel teria sido muito pior que Sauron. Ele teria permanecido “justo”, mas farisaico. Teria continuado a governar e ordenar as coisas para o “bem” e o benefício de seus subordinados de acordo com sua sabedoria (que era e teria permanecido grande)”. (carta 246)
Nessa afirmação, Tolkien disse que Gandalf se tornaria uma espécie de rei absolutista, algo como um antigo rei do Egito. O povo poderia até ser tratado de uma forma menos cruel em termos físicos, mas sofreria sempre com uma espécie de escravidão. Não haveria liberdade entre os seres do mundo e tudo seria uma imposição do poder sobre os mais fracos.Os chamados ‘povos livres’ não seriam mais tão livres assim.
Infelizmente Tolkien não nos deixou a Carta 246 completa. Ela termina pela metade, justamente quando tratava desse tema. Em nota o organizador do livro diz o seguinte: O rascunho termina aqui. Na margem Tolkien escreveu: “Assim, apesar de Sauron multiplicar [palavra ilegível] o mal, ele deixava o ‘bem’ claramente distinguível dele. Gandalf teria tornado o bem detestável e o teria feito parecer mau.”
Nessa noção de desvirtuar o que seria o bem é que Gandalf se tornaria ainda mais terrível. Pois, ao verificarmos que o bem é diferente do mal, torna-se mais claro quem os povos livres poderiam seguir ou lutar contra. Mas com Gandalf no poder isso seria distorcido, de tal modo que o bem seria detestado pelas pessoas, porque seria imposição, algo autoritário e assim, o que era para ser considerado bom seria visto como algo na verdade maligno, certamente haveria muitas revoltas e assim muitas mortes.
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Via: Tolkien Brasil

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