quarta-feira, 17 de julho de 2013

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 Daniel Sottomaior, presidente da Atea, que organiza o evento: resposta à chegada do Papa Foto: Marcos Alves
Daniel Sottomaior, presidente da Atea, que organiza o evento: resposta à chegada do Papa
MARCOS ALVES

 No dia 22, às 17 horas, no exato momento em que o Papa Francisco iniciar seu primeiro ato em solo brasileiro, ateus do Rio, São Paulo e Porto Alegre planejam fazer, de forma simultânea, o primeiro “desbatismo coletivo” do país. O objetivo do grupo é chamar a atenção para temas como o fim do ensino religioso em escolas públicas, debater o uso de recursos governamentais na visita do Papa e a questionar a sobrevivência de símbolos religiosos em órgãos oficiais, como crucifixos nas salas de julgamento do Judiciário. Segundo os organizadores, ainda há muito preconceito e intolerância com pessoas que não têm religião no Brasil.

O “desbatismo” vai seguir a fórmula que já ficou consagrada em outros países, sobretudo nos Estados Unidos, onde o movimento de “ateus praticantes” está mais desenvolvido: haverá uma espécie de cerimônia para as pessoas interessadas em “apagar” o batismo a que foram submetidas enquanto ainda eram crianças. O primeiro passo será “ouvir” algumas palavras em latim “de mentirinha”. Na sequência, “os desbatizados” passarão por uma sessão sob secadores de cabelos, “para fazer evaporar do corpo as últimas moléculas de água do batismo involuntário com os ventos do secularismo”. Após isso, as pessoas assinarão um livro de presença e receberão um diploma de “desbatismo”.
O evento está sendo organizado pela Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos (Atea). Em São Paulo, onde os preparativos estão mais adiantados, o evento será na Praça da Sé. Os organizadores ainda estão definindo o local do evento no Rio e em Porto Alegre. Segundo Daniel Sottomaior, engenheiro de 41 anos que preside a Atea, a organização, que conta com cerca de 10 mil filiados, ainda tentará fazer eventos como este em outras cidades brasileiras, de forma simultânea.
— Devemos entrar com um Habeas Corpus preventivo pois o Exército disse que vai prender ou dispersar os manifestantes em São Paulo — afirmou Sottomaior.
Ele afirma que a entidade defende os interesses dos cerca de 2 milhões a 4 milhões de ateus e agnósticos do país. A Atea afirma que o IBGE, por um problema metodológico, subnotifica o grupo, estimado oficialmente em 740 mil pessoas. Isso porque, o grupo acredita que o instituto inclui grande parte dos descrentes na categoria “sem religião”, que conta com 14,5 milhões de pessoas no país, de acordo com o Censo de 2010.
Mas, o “desbatismo” também estará aberto às pessoas de outras religiões ou quem não se sente representado pelo batismo involuntário da igreja católica.
— Sendo desbatizada, a pessoa mostra que não quer se vincular com o que a Igreja Católica faz ou diz — disse.
Além de ser uma resposta da vinda ao Papa ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, o ato visa debater diversas questões. Sottomaior lembra, por exemplo, que não se pode justificar os gastos públicos da visita do Papa com o argumento de que ele é um chefe de Estado. Isso porque, conta, o objetivo da visita é eminentemente religioso, não serão tratadas questões diplomáticas. Para ele, é como o Brasil gastar recursos públicos para garantir uma viagem de férias de Obama às praias brasileiras.
— Temos que discutir os problemas que afligem os ateus. O Brasil ainda conta com ensino religioso em órgãos públicos, ainda há símbolos religiosos em órgãos de governo. O estado laico, secular ainda é uma falácia — disse.
A Atea, que se mobiliza nas redes sociais, onde conta com cerca de 270 mil seguidores, lembra que os ateus ainda sofrem preconceito. A instituição cita pesquisas que indicam que 70% da população não votaria em um ateu para qualquer tipo de cargo político.

— Esse é um país que ainda pensa com a mentalidade de um país católico — conta Sottomaior, que não faz previsões sobre o número de participantes no evento: — Deixem isso para os religiosos —provoca.

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